Frase

“Opportunity is not only being in the right place in the right time but to have the courage to go to the right place when the right time comes”.


BLOG FEITO À MINHA FAMÍLIA, AOS MEUS AMIGOS, E A QUEM TIVER INTERESSE EM VIAJAR COMIGO, NESTA NOVA AVENTURA, TRABALHAR EM UM NAVIO.....

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Dia 27 de janeiro

Acordei 06:30, isso porque tinha ganho 1h off de manhã e só precisava entrar no trabalho às 9hs. Me arrumei correndo e fui até a varanda aqui perto da cabine, no deck 10 (sim, moro no 10° andar, e tem uma varandinha aqui do lado - é dos passageiros, mas a gente também usa, pra saber se vai dar praia). O navio tava chegando no porto de Buenos Aires. Voltei pra cabine correndo, mais ansiosa do que nunca. Sabia que ia demorar horrores para descerem a Gangway e arrumarem todos os apetrechos para os passageiros desembarcarem, mas não podia perder um minuto.
Quando deu 8:30hs, o navio já estava amarrado,gangway no lugar. Perguntei pra um segurança – “John, os visitantes já embarcaram?” “Não Fernanda, ainda não abrimos. Você tem visita?” – “Sim Jonh, meu ex marido, mas não tenho certeza se ele vem. Se ele chegar, vc liga lá no SPA? Tenho que ir trabalhar”. - Então o John, que é o indiano mais legal do mundo, passou o rádio pra todos os seguranças do navio. De todos os cantos. Se o Raul aparecesse, era pra avisarem a Fernanda. Pronto. O navio tava todo avisado. Era só esperar ele chegar...

Como era o primeiro dia de Buenos Aires, todos os passageiros saem do navio, e o barco fica às moscas (ou seja, sem nada pra fazer no SPA). Eu subia e descia igual barata tonta. Do deck 10 (da varandinha aonde tinha a melhor vista da gangway), até o deck 11, no SPA, só pra fingir que eu tava trabalhando. Que angústia meu Deus. Ficava olhando todos os ônibus que vinham do terminal pro navio, e todos vazios. Chegavam na porta do navio, enchia de passageiros e “ía-se” embora. As meninas do SPA estavam tão ansiosas quanto eu, a espera do “desconhecido” Raul. Na minha última tentativa, chamei Poliana para ir comigo. Ficamos olhando ônibus irem e virem durante uns 20 minutos. Quando olhei no relógio: 10:25hs, falei pra Poli. “Bom amiga, ele não vem mesmo, trabalha daqui à pouco, não daria tempo. Vamos subir”. Mas mesmo assim alguma coisa me fez esperar o último ônibus. Parou. Desceu alguém.

Um homem alto, de regata branca e tatuagem gigante no braço. Meus olhos não estavam acreditando que era ele. Poli!!!! É o Raul!!! Comecei a gritar o nome dele que nem louca!!! A Poli se empolgou e gritou também!!! Parecíamos 2 malucas gritando lá do alto... e de repente ele virou a cabeça, olhou pro alto e me viu!!! O choro veio lá de dentro... Gritei que eu tava descendo, e voei. Nem lembro aonde foi parar a Poliana, só sei que desci o mais rápido que pude... pelo elevador dos passageiros mesmo, que é proibido. Cheguei na Gangway, não conseguia nem respirar. Quando ele veio em minha direção, fiquei muda, parada, sem reação, e finalmente ganhei o abraço “de urso” mais gostoso, e mais esperado do mundo, que só ele sabe dar, e me desmanchei a chorar. Ah, Que saudades!!!

Ele tinha conseguido folga o dia todo, então ficou no meu navio até as 4hs. Começamos com o tour na área dos tripulantes; cabine, academia e SPA. As meninas finalmente conheceram o tal Raul, e esse assunto deu “pano pra manga”. Depois, piscinas, shopping e buffet. Conversamos sobre tudo e mais um pouco. Conversamos sobre a gente, sobre o passado e sobre o futuro. Conversamos sobre a família, os amigos e a Joaninha. Comparamos os nossos navios, as nossas comidas e as nossas festas. Combinamos de nos ver no fim de fevereiro, qdo nossos navios se encontram de novo e desta vez, eu que vou visitá-lo. Nos despedimos na gangway como grandes e bons amigos, e desta vez, aquele “tão esperado último olhar”, que eu tanto aguardei no aeroporto, apareceu. Nesta hora um filme passou na minha cabeça, de tudo que já passamos juntos e como viemos parar aqui. Chorei. (Não diga!!! Estou curada do “bloqueio emocional anti-choro” Rsrs).
Não rolou nenhum beijo, como imagino que estejam perguntando, nem tampouco juras de amor eterno.
E com tudo isso... percebi que 7 anos são muitos anos para se esquecer em apenas 1.

23 de janeiro – 6° Santos

Hoje é um daqueles dias que começa brilhante e termina mais escuro do que as noites lá fora. É dia de Santos. Todos os Santos eu estou off pra poder visitar a minha família. Isso já aconteceu 6 vezes. Minha mãe vem cedinho me buscar no navio, e vamos pra casa. Lá vejo minha vozinha e o Giggio, meu cão. De vez em quando encontro minha irmã e meu cunhado. Tomo banho no meu banheiro e fico na internet postando minhas fotos. Até hoje não deitei na minha cama. Vontade não me faltou, mas o medo de não querer mais sair de lá, me evitou experimentar.
Nossa como é difícil. Como é difícil voltar pra casa e ter que sair de novo. As horas passam voando, ao todo são 6hs de folga (poderia ser mais, se o meu gerente cumprisse o que promete), e num picar de olhos, já estou eu voltando pro barco.



Eu com a minha vozinha, numa das vezes que fui pra casa


Hoje foi mais triste ainda. A Paula o Rafa e a minha mãe vieram pro navio. Sim, podemos receber visitas em dia de porto. É só preencher num papel os dados das pessoas (da família somente) e eles embarcam no dia que escolhemos. Ficaram das 10hs até as 4hs da tarde. Visitaram o navio inteiro: minha cabine, o SPA, restaurantes, bares, cassino, piscinas. Almoçamos juntos no Buffet e quando deu a hora, levei todos até a gangway (ponte para sair do navio). A vontade de ir junto era tão grande que quando virei as costas comecei a chorar. Foi a segunda vez que chorei aqui. A primeira chorei porque estava doente e me vi sozinha, durante um longo dia. Quem me conhece sabe como choro à toa, mas aqui no navio, acho que estou passando por um “bloqueio emocional anti-choro”. Estou sendo mais forte do que imaginei que fosse. Mas hoje não me agüentei. Chorei no corredor, no elevador e na minha sala. Ah, como eu queria ter ido junto. Como foi difícil vê-las indo embora e eu ficando.


Voltei pro SPA mais desanimada do que nunca. Sem vontade de fazer nada. Sem vontade de trabalhar, de sorrir, de nada. Dei de cara com o meu querido gerente dando seus “pitis” diários. Passei reto e “abstraí”. Tem vezes que preciso fazer isso, passar reto, fingir que sou cega, surda, e o mais difícil pra mim, muda. Mas hoje foi fácil. Nada que eu ouvisse iria piorar minha tarde. Mas piorou.


Uma das meninas estava com a internet ligada, escondida numa das salas, já que o SPA estava às moscas, e eu resolvi entrar no meu MSN pra poder falar mais com a minha mãe. Em vez dela, encontrei Raul. Ele estava na Ilha Bela, dentro do navio, e contando os dias, 66, pra desembarcar. Nossos navios vaão se encontrar dia 27, daqui 04 dias, em Buenos Aires. Não poderei sair porque estarei de Port Maning, então combinamos de eu colocar o nome dele na caixinha, como meu primo, e ele vai tentar entrar de manhã, porque começa a trabalhar às 11hs.

Nos falamos muito rápido, no máximo 05 minutos, mas foi o suficiente para que todos os sentimentos que estavam guardados no fundo do meu coração viessem à tona. Chorei o resto do dia, em todos os lugares...
Agora estou terrivelmente gripada. Com a maior dor de garganta que já tive na vida. E tudo que vejo me dá vontade de chorar.
Não sei se vou publicar este texto no blog... Lendo novamente parece mais um desabafo para o meu diário do que um post de um blog.
Só sei que hoje não estou bem, quero ir pra casa, de vez.