Frase
BLOG FEITO À MINHA FAMÍLIA, AOS MEUS AMIGOS, E A QUEM TIVER INTERESSE EM VIAJAR COMIGO, NESTA NOVA AVENTURA, TRABALHAR EM UM NAVIO.....
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
2 meses e meio (15/01/11)
No Spa Saturnia, que é o “estilo” do SPA que trabalhamos, as coisas são mais lights, mas não menos cobradas.
Quando embarquei, tínhamos um manager romeno, Costel, que era meio casca grossa, mas muito querido. Ele conseguia ver o lado humano das pessoas. Lembro que todas as meninas que chegaram , todas muito assustadas, como eu, eram recebidas por ele lá no crew Office (primeiro lugar que vamos qdo embarcamos) . Ele fazia questão de explicar o funcionamento do navio. Nos levou pra almoçar no staff mess pela 1° vez; saía com a gente nas noites de gala, ainda pagava a caipirinha, rsrsrrs, e fazia umas piadas muuuuito das sem graça... mas gostava dele. O trabalho era bem mais tranqüilo, sem muitas cobranças.
Como o Costel ainda não tinha feito o curso de manager na Steiner, teve que ir embora 2 semanas antes do navio vir pro Brasil e então foi substituído por um italiano tão chato, mas tão grosso, que no 3° dia dele aqui, não resisti e falei isso pra ele. Ahh, tava tão de saco cheio dele, das grosserias, do modo que ele falava com a gente que eu tava a fim de ir embora mesmo, de verdade. Chamei ele um dia na recepção, só estávamos nós dois, e tasquei o verbo! Disse que ele não tinha motivo de tratar as pessoas desse jeito, que isso não dava motivação pra ninguém. Que no Brasil as coisas são diferentes, que ninguém está acostumado com esse tipo de tratamento e blá-blá-blá. Pelo incrível que pareça, o cara me escutou, não tentou se justificar e disse que ia tentar ser mais leve. Só sei que fiz tanto nam-myoho-rengue-kyo pra eu ter forças pra agüentar, que depois de mais 3 dias, tivemos a brilhante notícia de que nosso querido gerente não tinha o visto brasileiro (a Steiner esqueceu de fazer), e ele teria que desembarcar no último Veneza. Uhuuuuu!!! Buda está do meu lado!!!
Desde então estamos com o Vinícius. Um brasileiro doido que chegou com a corda toda, querendo mudar o mundo, o SPA, e a gente. Conseguiu a metade, a outra, acho que ele esqueceu, ou desistiu (ainda bem). Neste último cruzeiro tivemos a visita do Andrea. Outro italiano, que é supervisor da Steiner. O trabalho dele é ficar fazendo cruzeiros pelo mundo, fiscalizando e “ajudando” os gerentes. No começo detestei ele (pra variar). 1° porque o stress no SPA tava terrível. O Vinícius tava quase tendo um treco porque o cara tava chegando, reclamando de tudo o tempo todo, e vendo defeito em tudo que fazíamos... dava uns “Pitis – coisa de biba- que ninguém tava aguentando! Tava insuportável! (é Vini, se um dia vc ler isso, vc tava insuportável mesmo). E 2° porque o cara era o Simone escrito (aquele gerente que foi despachado pelo meu Buda) . O cara tinha o mesmo jeito, a mesma arrogância, a mesma voz... Tensão total! Mas no final, na última reunião, até que o cara foi bacana. Ele até sorriu. (tudo bem que atingimos o target da Steiner - pela 1° vez ).
A vinda do Andrea pra cá (não sei por que “raios”, esses italianos tem tudo nome de mulher: Andrea, Simone, eu hein!), então, a vinda desse Andrea pra cá mudou algumas coisas. Ele ensinou ao Vini, que não adianta colocar a meta individual lá no topo porque não iríamos alcançar e não iríamos nem tentar. E é verdade. A meta caiu, alcancei 2 vezes e tive 2 horas off. É ótimo isso porque dá mais disposição pra trabalhar. A gente faz de tudo pra agendar um cliente e pra vender os produtos. Se empolga pra trabalhar. E tudo isso pra ganhar horas off e ficar mais tempo longe do SPA. KKKKKKK.
Hoje percebo que não dá pra aconselhar ninguém a vir ou não vir. Depende muito de como você encara a vida. Depende muito do que você vem buscar. Eu vim sem saber o que buscar. Vim sem saber o que encontrar. Vim completamente perdida. Descobri que não existe lugar melhor pra viver do que o Brasil. Descobri que a nossa cultura realmente é diferente do mundo todo, e é a mais feliz. Descobri que tenho mais paciência e coragem do que sempre imaginei. E o mais importante de tudo; descobri que amo demais a minha família.
Sim, tô me acostumando. Tem dias que amo. Tem dias que odeio.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Vida de navio (2)
Vida de navio (2)
... na verdade tenho tantas coisas pra contar que não sei como começar. Todos os dias acontecem coisas, ou vejo coisas que na hora penso “vou botar isso no meu blog” mas o tempo vai passando, aquilo que achei interessante já não lembro mais, ou passou a ser comum que não vejo mais graça... e acabo desencanando de escrever. É como tirar fotos. No começo, não saía sem minha máquina... já hoje, nem sei aonde ela está...
As coisas por aqui vão ficando normais... rotineiras demais... é muita rotina mesmo... tudo igual, todo dia. As mesmas pessoas, trabalho, horários, os mesmos caminhos, comidas, festas , músicas... tudo igual.... A única coisa que muda é paisagem.... ah, isso muda todo dia... e é cada por do sol..... cada vista... que faz passar a idéia de desistir de tudo e voltar pra minha cama, pra minha casa, pro colo da minha mãe.... Ahhhh, isso realmente passa na minha cabeça todos os dias... desistir...” Parar de brincar disso”. Conto os meses pra ir embora daqui. Não que eu esteja detestando... ta ta bom, tem dias que detesto sim... mas tem dias que adoro. É tudo muito intenso... Já tinham me avisado disso, mas só passando por isso pra sentir. Quando estamos tristes... estamos realmente tristes, e com a alegria é a mesma coisa. E quando bate a depressão em alguém... parece que contagia! É mesmo... se uma das meninas está triste.. fico também! Já me falaram disso também, pra ficarmos longe de “negatividade” , mas com isso não concordo. Eu e as minhas amigas fizemos uma grande parceria. Viramos amigas de infância em apenas 1 mês... e nos ajudamos muito! Uma levanta a outra! Uma ajuda a outra! Ah, e quando estamos empolgadas... quando dormimos com o “bozo”, como nos divertimos!!! Tudo é motivo pra zoarmos uma com a outra! Essa tem sido a melhor parte... Não sei como seria sem minhas amigas....Sem a minha Ivana (nos chamamos assim, “My Ivana – My Fê ... não, não virei sapatão... rsrsrrs, apesar de ter várias amigas que são... ainda espero por um amor – homem.... mesmo sendo muito difícil achar esta categoria por aqui.... rsrsrsrs).
Falando em amor... a gente fica bem carente por aqui... E quando você é do SPA, e Staff, os meninos caem matando em cima da gente... é verdade! Não to zoando não! Somos cogitadas mesmo!!! “As meninas do Spa” Somos famosas... KKKK. Na verdade... há um tempinho ficamos mais famosas por outro motivo!!! Rsrsrsrs, mas essa história merece uma publicação em um só tópico... depois tento explicar... mas só pra deixar um gostinho.... Ficamos pra história do Costa Fortuna!!!! KKKKKKK... Até warnings renderam!!!
Então... voltando em falar de amor... a carência bate... mesmo... a vontade de ter alguém aqui pra ficar junto... abraçar, visitar, telefonar e se preocupar, é bem grande... Mas como tudo que acontece de noite, de manhã já estão todos sabendo... inclusive o padre e o comandante, estou evitando qualquer paquerinha por enquanto. E isso é muito bom.... porque várias coisas estão se encaixando na minha cabeça. Algumas peças que estavam sobrando, foram encaixadas, e achei algumas respostas pra várias perguntas que sempre me fiz, e não chegava a conclusão nenhuma. Morar no navio também pode ser visto como uma forma de auto-conhecimento,; auto-analise... e dependendo do ponto de vista... um sanatório....
Vida de navio (1)
O corpo dói todo, o tempo todo... e os pés... nossa!!! Sempre cuidei muito do meu pé... cuidava porque sempre odiei o pé dos outros (todo mundo sabe disso)... Desde pequena tenho nojo de pé, de qqr pessoa, menos dos meus... pq eles sempre foram lindos... “foram” porque agora... além de chulé, e ressecados, eles doem demais.... e depois dessa profissãozinha que inventei... tenho que fazer massagem nos pés dos outros!!! Urghhhhhhhhh!!!! Reflexologia! 50 minutos olhando e tocando no pé dos outros!!!! Blergh! Mas tenho uma técnica: Em todo começo de tratamento, de qqr massagem, temos que fazer o “welcome touch” , que é uma frescura que a Steiner inventou para “introduzir o toque do terapeuta” (iiiii, nem vem pensar besteira!!! Rsrsrs). Então pegamos um par de luvas quentes, pingamos uma gota de Lime Essential oil, e “introduzimos” rsrsrsrs, o toque nos pés do cliente. Na verdade fazemos uns 3 movimentos com a luva na solas dos pés e na base, e dispensamos as luvas no chão ... Já eu não... eu jogo uma 5/10 gotas de lime (dependendo do tamanho do nojo) e esfrego aquelas luvas até ela ficarem geladas.. e se vejo q o tal do pé ainda ta sujo... repito o processo 2, 3 vezes!!! KKKKK. Só boto a mão no que eu sei que ta limpinho!!! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK... Ê, mas que mente suja essa sua, hein!!!! KKKK.
Qdo estávamos na travessia, o barco já tinha a cara do Brasil. No último Veneza entrou mais uma porrada de tripulantes brasileiros.. a língua oficial passou a ser o português... já não me importava mais em estar no elevador e ficar muda com as minha amigas para não ser mal educada de falar uma língua que ninguém ia entender.... a partir de Veneza o navio era nosso!!! Rsrrsrs. O mais legal é que era nítido a alegria dos tripulantes mais antigos, de estarem indo pra casa. A comida começou a mudar, as músicas no crew bar, e até os filipinos começaram a falar “oi, tudo bem?” ao invés de “Ciau (oi em italiano), how are you? Isso quando eles não lançam um: “ Oi gatinha!” rsrsrsr.
Falando em travessia... foram 20 longos dias com os mesmos passageiros. Já sabíamos o nome da maioria daqueles que freqüentavam a academia todos os dias. Já sabíamos exatamente quem tinha grana e poderia comprar algum produto, e aqueles que a gente nem precisava oferecer pq de lá, não ia sair nada mesmo... rsrsrsrs. Mas de uma coisa a travessia me provou: Nasci pra ser fisioterapeuta... na área que estava. Com neuro mesmo.
No 2° dia de navegação, apareceu um senhor na recepção com a esposa... Na verdade já tinha visto ele algumas vezes por lá, mas foi a primeira vez que falei com ele. Estava na cadeira de rodas. Na Europa tivemos muitos cadeirantes como passageiros... mas este foi o único que conversei. Ele perguntou sobre um hidratante que publicaram no jornalzinho que estava em promoção. Vendi, e eu disse: “ Vc está com cara de quem precisa de uma massagem!” E ele: “Ah, e não sei se alguém poderia fazer massagem em mim. Faço fisioterapia 4 vezes por semana, preciso de alguém que saiba realmente o que fazer! – “ Ah, então o senhor acabou de encontrar!” ... E foi assim que tudo começou.... rsrsrsrs. Mrs. Jake era canadense, de 78 anos, mas parecia que tinha 50! Tinha uma vontade de viver e reaprender a ser independente que dava gosto de ver! Teve uma inflamação na coluna há sete anos e ficou paraplégico. Hoje está conseguindo dar alguns passos, e por incrível que não pareça, eu fiz ele voltar a sentir as mãos!!! Sou o máximos mesmo! Ele disse que pensava que sentia as mãos... mas a cada vez que eu atendia ele, os movimentos e a sensibilidade dele voltavam mais ainda.... Mágica? Não.... experiência... e amor pelo que faço... Fiquei muito feliz em conhecê-lo. Tinha um inglês mais lindo do que os ingleses, que eu já adorava... E viramos grandes amigos. Ele marcou massagens comigo 6 vezes (Isso que cada massagem custa 130 Euros)! Ao todo foram 120 dólares e 40 euros de caixinha!!! Conversávamos sobre tudo! Ele é paleontólogo, já viajou o mundo inteiro, mas era a primeira vez no Brasil. A cada parada do navio (Fortaleza, Salvador, Recife, Maceió, Rio) eu explicava pra ele como as coisas funcionavam.. os lugares aonde ele deveria conhecer, os cuidados que ele deveria ter... ah, foi tão legal conhecê-lo.... Valeu pela travessia inteira! E é claro que ganhei mais um voto no bravíssimo!
Fotinhos da travessia:
Napoles - Nao desci... tava trabalhado no dia :(
Malta - Lugar mais diferente que jah vi. Divino!
Mindelo - Cabo Verde: a meio oceano do Brasil
Corfu - Eu tava dentro de um castelo :) !!!